
Com um resgate do passado para promover ação no presente visando a melhorias e igualdades futuras, o primeiro dia de trabalho do Seminário Mundial das Artes e Culturas Negras lotou o auditório do BDMG em Belo Horizonte.
Crédito: Osvaldo Afonso/Imprensa MG
Numa abertura marcada pela presença de autoridades do Governo de Minas Gerais sensíveis à causa, além de cidadãos da sociedade civil engajados na temática, o secretário de Estado de Cultura, Angelo Oswaldo, destacou que o momento é providencial e oportuno. “Temos um acontecimento especial para a reflexão, discussão, debate, análise e investigação dos temas. Devemos criar novas mentalidades, atitudes e dimensões nas perspectivas do novo milênio para afirmação das culturas e artes negras”.
O chefe da Assessoria de Relações Internacionais, Rodrigo Perpétuo, expandiu as fronteiras do evento: “Esse pleito significa que estamos para além do Brasil, convergindo valores e princípios referentes à valorização da cultura negra. Trata-se de uma iniciativa que busca horizontalizar relações, trazendo mais dignidade e mais luz à alma negra de nosso Estado. Nosso intuito é de que o seminário alcance dimensões além dos horizontes comuns de conhecimento”.
Uma vez que o seminário reflete sobre as possibilidades da vinda do Festival Mundial de Artes Negras (Fesman), em 2017, para solo brasileiro, o secretário de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania, Nilmário Miranda, frisou as expectativas da possibilidade. “Estamos construindo a utopia de fazermos em Minas Gerais um evento da envergadura do Fesman. Sabemos do desafio, mas estamos convictos da força do nosso Governo unida à do comitê de culturas negras”.
A ex-ministra Chefe de Estado do Ministério das Mulheres da Igualdade Racial, Nilma Gomes, reverbera sobre os diferentes elementos inerentes à cultura negra. “O lema ‘para além do que se vê’ traz à tona conceitos simbólicos, espirituais e políticos. Vamos pensar o ser negro na diáspora. A identidade da cultura negra passa, inevitavelmente, por sua corporeidade. A vida cotidiana pulsante, combinada à ancestralidade, são traços indissociáveis da arte negra”.
Nilma Gomes ainda frisou o caráter expansivo da cultura dos negros. “São identidades que marcam e atravessam fronteiras. Mesmo distantes, afrodescendentes continuam ligados ao continente africano. A cultura negra é a experiência humana da diversidade”. Para finalizar, a ex ministra ressaltou que se faz necessária uma nova mentalidade: “Vamos pensar os negros como humanos, com novas reflexões sobre existência. São passos largos contra o racismo institucional. Negros como sujeitos políticos em contextos diversos”.
O reitor da Universidade Luso Afro Brasileira – Unilab - Tomaz Aroldo da Mota Santos, frisou que a instituição está em pleno combate a todas as formas de discriminação negativas e anunciou duas novidades de sua entidade de ensino. “A Unilab inaugura em julho o Festival Afrobrasileiro, que acontece no Ceará e Bahia, com convidados de países africanos. O evento vem com a missão de revelar para nós brasileiros a africanidade na cultura nacional. Outra boa notícia é o Centro de Estudos Interdisciplinares Africanos e das Diásporas que funcionará como um lugar para se pensar as particularidades e singularidades do povo negro”.
Crédito: Oswaldo Afonso/Imprensa MG
Identidade
Os outros dois palestrantes fizeram suas apresentações calcadas no conceito de identidade.
Representando o Ministério da Cultura de Senegal, Assis Abboul, destacou a fluidez imanente no termo. “As identidades são múltiplas porque há muitos individualismos de sujeitos. A identidade pode ser uma prisão. Essa exatidão não cabe ao ser humano. Não podemos definir algo que é tão diversificado. As pessoas estão escandalizadas por saberem que a mutilação feminina é praticada no Senegal. Se isso faz parte da nossa identidade, esses são elementos que não devem ser absorvidos”.
Dr. Tukufu Zuberi da Universidade da Pensilvânia, nos EUA, ressaltou a ausência de identidade imposta aos africanos. “Menos de cinquenta anos atrás textos questionavam a humanidade dos povos negros. Identidade não é só DNA, vai muito além. Toda filosofia também é africana. Toda história também é africana. Permitindo liberdades negras em todos os lugares, avançamos no mundo todo. Todos se beneficiam do reconhecimento da humanidade dos negros, da cultura dos negros”.
Os preparos para a possível vinda do Fesman
Assis Abboul, que foi um dos organizadores da última edição do Fesman, em 2010, no Senegal, trouxe expectativas aos mineiros. “O Brasil foi o convidado de honra do Fesman no meu país, sendo a nação que mais contribuiu com o acontecimento. Foram mais de 500 brasileiros ao país africano, com mais de 250 artistas participantes do evento”, diz o representante senegalês que acha simbólico que o próximo Fesman aconteça em solo tupiniquim. “O Brasil não fala somente aos africanos, mas ao mundo todo. No nosso sofrimento somos capazes de universalidade, por isso a importância do festival aqui. Podemos nos tornar tudo, sem nos esquecermos de nós, acrescentando a um mundo mais justo. Faremos o festival aqui para construirmos um mundo novo.”