
Em 2016 o Salão Nacional de Poesia Psiu Poético completa 30 anos. No próximo dia 12 serão divulgados na sala de reuniões da Secretaria Municipal de Cultura de Montes Claros os nomes dos poetas homenageados no evento, que acontece entre os dias 04 a 12 de outubro.
Como aconteceu nas edições anteriores, o Psiu Poético homenageará poetas vivos que veem contribuindo ativamente na produção e discussão da poesia contemporânea. Os selecionados têm a oportunidade de participar do Salão, contribuindo com suas reflexões e provocações para a produção atual. Nesses 29 anos, foram homenageados pelo Psiu Poético – entre poetas, músicos e outros artistas que mantêm um diálogo permanente com essa linguagem – nomes como Yvonne Silveira, Jorge Mautner, Mirna Mendes, Thiago de Mello, Marli Fróes, Arnaldo Antunes, Karla Celene Campos, Adélia Prado, Wanderlino Arruda, Ferreira Gullar, Alice Ruiz, Wally Salomão, Olívia Ikeda, Anelito de Oliveira, Wagner Rocha, Leila Míccolis, Nicolas Behr, Virna Teixeira, Guilherme Mansur, José Carlos Capinan, Makely Ka, Murilo Antunes, Bruno Brum, Márcio Borges, Jorge Salomão, Yeda Prates Bernis, Wilmar Silva, Afonso Ávila, Guilherme Zarvos, Carlos Nejar, Marcio Moraes, Renilson Durães, Luis Turiba, Mané do Café, Almandrade, Amarildo Anzolin, Jussara Salazar, Jovino Machado, Adão Ventura, Diana de Hollanda, Gilberto Mendonça Telles, Georgino Júnior, , Alice Massa, Carlos Alberto Prates Correia, Gilberto de Abreu, Estrela Leminski, Thaise Diaz, entre outros.
Acesse a página do evento: psiupoetico.com.br
Psiu, são 30 anos de poesia
Angelo Oswaldo de Araújo Santos
Não é vã guarda a prontidão de Aroldo Pereira na poesia dos últimos trinta anos. Resulta em extensa obra que atrai o interesse e sempre surpreende quem ouve o seu psiu poético, siflado numa esquina de Montes Claros para ecoar mundo afora. Presença frutífera, ágil e inquieta, a poesia de Aroldo Pereira nasceu na década de 80 e celebra, com nova safra, os três decênios. O país emergia do autoritarismo, e uma vaga de experimentação renovava os influxos da tropicália, das artimanhas da Nuvem Cigana e da poesia beat, no corredor polonês das vanguardas, quando ele começou a escrever e lançou o salão nacional de poesia Psiu Poético. Tanto o encontro anual em Montes Claros quanto a sua inventiva produção guardam uma vitalidade que enfatiza a importância da poesia na cultura brasileira.
O raio desordenador de Raymundo Colares atravessou a cabeça de Aroldo Pereira, enquanto Hélio Oiticica revestiu os passos do poeta na ginga do parangolé. A marginalidade tem centros luminosos. No tédio e na solidão de sua “princesa decadente”, arando os campos haroldos e ovacionando Oswald, o criador do Psiu flertou com os tropicalistas do Brasil e os beats americanos, varou os grafites e a velocidade das ruas, cortou tribos e territórios urbanos e decolou do sertão para ganhar altura. No mundo das imagens, a ereção do poema se faz com palavras acesas. Torcer o verso como Torquato, gritar Olé, Oiticica, ler o “gibi” de Colares, escrever no fio da navalha para cortar as realidades repletas de “verdades vadias”. Rapto rápido como o rap no universo do verbo.
A comemoração das três décadas do Psiu Poético é um acontecimento significativo. Em outubro, em Montes Claros, poetas se reunirão no abraço a Aroldo Pereira, celebrando a vida, porque
há coisas miúdas q. nos encantam
mesmo faltando dinheiro para o aluguel
e a visita tendo q. dormir no sofá
Poeta, ator, compositor e agitador cultural, ele “não se cansa de reivindicar, através de sua relação com a linguagem e com a vida, um lugar para o homem na ordem das coisas”, como registra Wagner Rocha, na abertura de “Parangolivro”, editado pela 7Letras em 2010. Sua poesia, enfatiza Rocha, “é marcada por uma necessidade de mexer nas feridas sociais, de traduzir em versos toda a dor da humanidade que atravessa grandes conflitos”. Poeta do nosso tempo, em “Geração” ele diz
passar no asilo
ver se reservaram
vaga pra minha
Aroldo Pereira pode saber que, nas bibliotecas, registros e acervos de poesia, a reserva está confirmada. Ele não precisa pedir licença para entrar. Sua numerosa lista de livros publicados tem lugar garantido pelo tempo que for, para o acesso das gerações que vierem.