
Crédito: Arquivo pessoal
Neste mês de abril que se encerra, uma importante voz do mercado musical mineiro calou-se. Ele não empunhava o microfone, mas os vendia. Não subiu em nenhum palco, mas sua atuação nos bastidores ressoava e foi fundamental para a formação musical de importantes bandas de Minas, como Skank, Tianastácia e Jota Quest. A Secretaria de Estado de Cultura presta esta homenagem à memória do empresário Hélio Garcia Bousas – mais conhecido como Garcia -, o fundador da loja de instrumentos musicais A Serenata, falecido no último dia 21.
Garcia comandava o Grupo Classic, que também engloba as empresas Michael e Vogga. Em termos de infraestrutura, não é exagero afirmar que ele ajudou a impulsionar uma revolução local, especialmente nos anos 1990, com a venda de instrumentos musicais importados, algo que os jovens músicos de então tanto almejavam. Mesmo aquele guitarrista ou baterista que andava com o bolso vazio, Garcia sempre dava um jeito: facilitava o pagamento para que o músico não saísse da loja sem o instrumento de seus sonhos.
TRAJETÓRIA
Velho conhecido dos amantes e profissionais da música, o empreendedor abriu sua primeira loja de instrumentos musicais há cinquenta anos. Desde então passou de mero proprietário a grande movimentador da cena musical mineira, como conta o tecladista da banda Skank, Henrique Portugal.
“Dentro de sua esfera de atuação, Garcia foi também um artista. Com um viés vanguardista no mercado, ele antecipou tendências. Falar de Garcia é mencionar um verdadeiro criador de uma estrutura facilitadora ao trabalho dos músicos.”
Muito mais do que apenas uma loja de instrumentos, A Serenata ficou marcada por ser também um espaço de convívio das bandas mineiras que estouraram na década de 1990. “Garcia proporcionou uma rede de relações entre os agentes diversos da complexa cadeia produtiva da música. A loja era nosso ponto de encontro”.
Para Guido Franco, afinador de pianos que tornou-se amigo de Garcia, o grande diferencial do saudoso empresário era sua facilidade em se relacionar no meio. “Ele conhecia bem o caminho que um músico precisa ter para realizar seu trabalho e era muito sensível à causa.”
Filho mais velho de Garcia, Rogério Bousas começou a trabalhar com o pai em 1989. Junto aos irmãos Marco Aurélio Bousas e Daniela Bousas, deu continuidade e ampliou os negócios da família. Ao falar do patriarca, comove-se ao relatar que o principal legado que o pai lhe deixou não foi o Grupo Classic, mas outras ‘heranças’. “O melhor jeito de vivermos a memória do meu pai é ter a influência dele nas nossas atitudes. Devo a ele a missão de levar para as próximas gerações o que ele nos ensinou: A Serenata vende sonhos e não instrumentos. Cada pessoa que compra um instrumento adiciona sensibilidade em sua vida”.
Crédito: Acervo pessoal
Helio Garcia com os filhos Rogério, Marco Aurélio e Daniela
A VEIA EMPREENDEDORA
Crédito: Arquivo pessoal
Segundo Rogério Bousas, seu pai se auto-intitulava ‘PI’ - Primário Incompleto -, mas sempre foi autodidata nos assuntos que lhe interessavam. Dotado de perseverança e empenho incansável, Garcia construiu um grupo de lojas que atende a músicos diversos.
Sua primeira loja, inaugurada em 1966, tinha 32 metros quadrados. Nesta época, vendia bastante para as bandas de baile. Já na década de 1970, A Serenata se firma como uma loja especializada em instrumentos musicais impulsionada por alguns movimentos sociais, como Jovem Guarda, Desfiles de 07 de Setembro, Festivais de Música, entre outros. Foi nesta época que a loja mudou de endereço para um imóvel de 400 metros quadrados. Em 1990 o Brasil se abre para as importações, transformando definitivamente o segmento no país e passa a ter acesso às grandes marcas de instrumentos e conquista mercado nacional. Nos anos vindouros, A Serenata se instala em grande espaço na Savassi de BH. Neste ano, a loja completa meio século de vida.