A Assembleia Legislativa de Minas Gerais inaugura a reprodução do painel Tiradentes, de Cândido Portinari, e conjuntamente lança nova edição dos Autos de Devassa da Inconfidência Mineira. O evento ocorre no contexto das comemorações da Inconfidência Mineira e do Dia de Tiradentes (21 de abril). O lançamento será hoje (27), às 19 horas, no Salão Nobre e no Espaço Democrático José Aparecido de Oliveira (Edjao).
A nova edição dos Autos de Devassa, impressa em parceria com a Imprensa Oficial de Minas Gerais, é uma reprodução de um manuscrito original do século XVIII, que contém as fases do processo judicial movido pela Coroa Portuguesa contra Tiradentes e os demais inconfidentes. O processo resultou na condenação à morte de Tiradentes. Essa é a terceira vez que os Autos são publicados: a primeira ocorreu na década de 1930, pela Biblioteca Nacional, e a segunda na década de 1970, também pela Imprensa Oficial de MG em parceria com a Câmara dos Deputados.
A publicação integra o Programa Editorial de Obras de Valor Histórico e Cultural de Interesse de Minas Gerais e do Brasil, coordenado pelo deputado Lafayette de Andrada (PSD). O programa tem por objetivo a publicação de obras de valor histórico e cultural que possam contribuir para a compreensão do desenvolvimento político e social de Minas Gerais e do Brasil. Os Autos de Devassa também estão disponíveis em versão digital, em site criado pela Imprensa Oficial, em 2015.
Painel – O painel Tiradentes, considerado uma das principais obras de Portinari, foi originalmente encomendado para o saguão de entrada do Colégio Cataguases, projetado por Oscar Niemeyer na cidade mineira de mesmo nome, na Zona da Mata. A obra foi comprada pelo Governo de São Paulo e encontra-se atualmente no Memorial da América Latina, em São Paulo (SP). Composta por três telas justapostas, a pintura retrata acontecimentos da Inconfidência Mineira e do julgamento dos inconfidentes.
A reprodução digital da Assembleia ficará exposta em frente ao Salão Nobre, no Edjao, no tamanho 11 x 1.92 m, mantendo a proporção do formato original (17,67 x 3,09 m). A impressão digital é em vinil adesivo aplicado sobre placa de PVC.
Confira artigo do Secretário de Estado de Cultura Angelo Oswaldo sobre o tema
Inconfidência presente
As comemorações da Inconfidência Mineira, este ano, são emolduradas por fatos pelos quais se vê que o tributo aos conjurados de 1789 não se restringe ao dia 21 de abril, feriado nacional, mas se expande numa série de referências de viva atualidade. Basta lembrar que o pano de fundo dos debates da comissão parlamentar que aprovou, na Câmara dos Deputados, a iniciativa contra a presidente da República foi uma tela retratando a condenação de Tiradentes, em 1792, espelho histórico do embate que ali se travou, a evocar a dura sentença da alçada portuguesa contra um punhado de mineiros apaixonados pela pátria.
A televisão lança uma novela, “Liberdade, liberdade”, na qual a protagonista é a filha de Tiradentes. Todos os sofisticados ingredientes que singularizam os folhetins da Rede Globo são utilizados para que Joaquina, uma desconhecida menina de Vila Rica, saia das sombras da história para narrar algo que, no mínimo, haverá de fazer justiça ao legado do pai. Enquanto isso, as livrarias oferecem diversos títulos sobre os acontecimentos ocorridos nas Minas Gerais do ocaso do século 18, como a tetralogia publicada nos últimos anos pelo escritor Benito Barreto ou a poesia dos inconfidentes, reunida e analisada por Domício Proença Filho e especialistas em alentado volume.
A Assembleia Legislativa lança agora uma nova edição dos Autos de Devassa da Inconfidência Mineira, no programa editorial de obras de valor histórico e cultural instituído pelo presidente Adalclever Lopes. No ano passado, a Imprensa Oficial disponibilizou os Autos em versão digital. Já o escritor Lucas Figueiredo, autor de livro sobre a saga do ouro de Minas Gerais mundo afora, continua a preparar uma biografia do Tiradentes, no curso de intensa pesquisa.
Mais duas obras de especial relevância, em se tratando da Conjuração Mineira, acabam de ser apresentadas aos leitores. Estendidas e aprofundadas no campo da ficção, ambas erguem um painel colossal sobre o tempo da Inconfidência, o Brasil colonial, o império português, o iluminismo, a maçonaria, a Arcádia e o ouro. Quem começa a percorrer as numerosas páginas desses livros acaba enredado de tal forma que se sentirá em plena ação na realidade daquele último quartel do Setecentos.
Em “Mergulho na Região do Espanto”, o romancista Rui Mourão surpreende uma série de personagens do século 18 em colóquio com um escritor numa pousada de Ouro Preto. Essas memórias póstumas, narradas ao vivo por desassombrados visitantes daquele quarto, revelam não só os intrincados caminhos da construção literária – nos quais se esvaía o autor que as narra – como projetam as realidades trepidantes da formação das Minas Gerais e a epopéia do ouro. Ouro que é o fio condutor do fascinante enredo.
O português Amadeu Lopes Sabino resgata uma figura histórica de sua cidade natal, Elvas, o poeta iluminista e magistrado António Dinis da Cruz e Silva, que foi o presidente da Alçada que condenou Tiradentes e os companheiros de prisão. Lopes Sabino levanta, por inteiro, o que foi o seu país na segunda metade do século do ouro e penetra no sonho perdido da liberdade, nas profundezas da província do ouro. A exuberância dos detalhes que enriquecem cada trecho da narrativa indica a profundidade da investigação historiográfica. A composição das personagens que povoam o universo do poeta satírico de “O Hissope” é feita com tal argúcia que resulta no painel monumental de “A Cidade do Homem”, como disse Rui Mourão sobre o romance. O leitor emerge no centro dos mais surpreendentes acontecimentos, no eixo dos quais se entrechocam o juiz e o condenado – o poeta e o sonhador, o iluminista e o revolucionário – sem, no entanto, que ao primeiro calhasse perceber toda a grandeza do segundo.
É tempo de Inconfidência. O governador Fernando Pimentel presidirá as celebrações que, desde 1952, se sucedem na Praça Tiradentes, em Ouro Preto. Ao seu lado, estará o ex-presidente do Uruguai, José Mujica, orador oficial. Com o convite a um líder marcado pela entrega total à “res publica” e o despojamento de toda pretensão e inutilidade, o governador dos mineiros presta significativa homenagem ao nosso compatriota maior. O Alferes da Cavalaria de Minas Gerais, Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, por certo muito bem se entenderia com José Mujica. Ambos libertários, republicanos e democratas, são dois sonhadores unidos pelo ideal de uma América Latina que não se perderá.
Angelo Oswaldo de Araújo Santos - Secretário de Estado de Cultura