
O ideal de liberdade e a crença de que um povo pode determinar seu próprio destino estão na raiz da história mineira e brasileira. Às vésperas de Ouro Preto receber, pela 65º vez, a transferência simbólica da capital do Estado, na entrega da Medalha da Inconfidência, a Secretaria de Estado de Cultura (Sec) tira das gavetas do Arquivo Público Mineiro – APM, do Museu Mineiro e do Museu dos Militares Mineiros fotografias, objetos e fatos que marcam e enriquecem cada trecho da narrativa libertária da Inconfidência Mineira.
A investigação historiográfica feita pela equipe do APM revela outras faces do herói Tiradentes e nos atenta para as consequências dos julgamentos, registrados nos Autos da Devassa, para a vida de uma das mulheres inconfidentes, Bárbara Heliodora.
Fazendo a revolução de dentro da própria coroa
O título de Patrono Cívico da Nação reconhece em Joaquim José da Silva Xavier, Tiradentes, o líder do primeiro movimento pela independência do país. Ao alferes, posto do segundo-tenente militar da época, muitas vezes foi idealizada uma imagem como um herói injustiçado, que vivia em más condições. Já o acervo do APM revela a sua vida como um bem remunerado militar, funcionário do próprio sistema governamental do qual queria se emancipar, como se pode constatar no retrato.
“Este retrato mostra o cotidiano deste servidor público no Regimento da Cavalaria, fazendo as patrulhas pelo Caminho Novo. O acervo é um contraponto ao que muitas vezes mostra-se sobre Tiradentes, como um homem da contracultura com uma grande barba e longos cabelos”, destaca o Diretor de Arquivos Permanentes do APM, Denis Soares da Silva. No Museu dos Militares Mineiros consta uma carta enviada por ele ao rei, em que assina como “Alferes, o comandante do sertão”.
Já no acervo do Museu Mineiro é possível ver um relógio de bolso banhado a prata onde estão gravadas suas inicias – J. J. S. X. 23/2/1780. “Este relógio é um acessório que denota certo status para a época e contrapõe à imagem geralmente vinculada ao revolucionário inconfidente”, avalia o diretor.
Como contracheques da época, documentos do APM registram a quantia que o alferes recebia nos anos de 1781 e 1782 do império português. “$ 72 mil réis por trimestre era um alto valor para época”, comenta Soares. Os arquivos mostram ainda que o delator da Conjuração Mineira, Joaquim Silvério dos Reis, recebia do mesmo caixa do herói anos depois, em 1789. Ainda sobre o traidor, destaca-se no acervo uma pintura deste também com trajes militares.
De vilão a herói da nação
A biografia do Tiradentes o perpetua mundo afora como um ícone libertador, mas os documentos do APM mostram que nem sempre a figura foi venerada por todos. “O alferes foi de vilão da Coroa Portuguesa a herói para a República recém-instalada no Brasil. A sua imagem foi sendo apropriada de diferentes maneiras pelos grupos detentores do poder” conta Soares.
O Governo livre de Portugal, 73 anos depois, solicita a retirada de uma coluna no centro de Ouro Preto que comemorava os mártires da Inconfidência, para a construção em 1894 da estátua que coloca a figura de Tiradentes como o principal símbolo dos valores republicanos. Imagens da festa de inauguração da estátua estão no acervo do APM.
O destino e o poder de conquista de uma mulher inconfidente
A investigação continua com o levantamento feito por Rafael Pedro Nogueira, graduado em história e gestor de cultura do APM, sobre o decorrer da vida da esposa de um dos intelectuais mentores da Inconfidência Mineira, Inácio José de Alvarenga Peixoto, depois do seu julgamento e morte.
Bárbara Heliodora Guilhermina da Silveira, musa inspiradora do poeta arcadista inconfidente, expõe em uma carta, guardada pelo APM, o seu poder de conquista, ao expressar a sua “ruína” com o confisco dos bens do marido.
O texto de 1795, direcionado à João Rodrigues de Macedo, um contratador da Real Fazenda, sinaliza indícios sobre uma negociação que traria, anos depois, os bens confiscados de volta à Heliodora. Na mesma carta constatam-se traços de sua personalidade, e de um suposto processo de demência, além do seu destino junto ao Contratador “compadre”, o qual posteriormente dividiria a administração dos bens.
Desvende a história de Bárbara acompanhando a transcrição da carta original feita pela especialista em leitura paleográfica do APM, Sônia Maria Gonçalves, com os comentários do historiador Rafael Pedro clicando aqui.
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