
Dono de uma expressiva produção fotográfica da vida cotidiana no Brasil no século passado, o fotógrafo Assis Horta faleceu nessa segunda-feira (16). O velório será realizado nesta terça (17), das 13h às 16h, no Cemitério Parque da Colina, em Belo Horizonte.
O secretário de Estado de Cultura Angelo Oswaldo lamentou o falecimento. "Assis Horta partiu tranquilamente, feliz por ter chegado aos 100 anos, como queria. Deixa um legado cultural. Diamantina e sua gente ficam perenizados nas imagens do admirável fotógrafo", avaliou.
O fotógrafo chegou ao centenário no último dia 28 de fevereiro. Assis Horta fez parte da primeira equipe do IEPHA nos anos 1970 e é dono de uma expressiva produção fotográfica no Brasil. Suas obras constantes dos arquivos do Iepha-MG guardam registros históricos que revelam um período importante da memória da preservação do patrimônio cultural de Minas Gerais. Por meio do olhar sensível de Horta, este legado também ocupa um lugar na memória afetiva dos mineiros. Como funcionário do quadro seminal do órgão, fotografou momentos relevantes em Minas.

Registrou, dentre outros, o paisagista Burle Marx (1909-1994) e o arquiteto Luciano Amédee Péret - que foi presidente do Iepha-MG de 1979 até 1983 - em campo, durante a requalificação dos jardins dos Passos do Santuário Bom Jesus do Matosinhos, em Congonhas. As fotos trazem os dois trabalhando no local, em registros singulares, que contam parte da história da preservação do patrimônio mineiro.
Nascido em Diamantina, no Vale do Jequitinhonha, onde começou a fotografar ainda adolescente, Horta manteve na cidade um estúdio fotográfico, o Photo Assis, de 1936 até 1967, mas parte de sua carreira esteve diretamente ligada ao patrimônio. Na década de 1930, paralelamente ao seu trabalho no estúdio, ele foi contratado por Rodrigo Melo Franco de Andrade, então presidente Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Iphan (na época, chamado de Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - Sphan) para acompanhar a proteção do patrimônio cultural na região diamantinense. O material reúne imagens raras e históricas. No final dos anos 1960, Assis Horta mudou-se para a capital mineira, onde mora até hoje.
O trabalho do fotógrafo ganhou mais visibilidade ainda quando, em 1943, o então presidente da República Getúlio Vargas tornou obrigatória, com a Consolidação das Leis do Trabalho, a carteira profissional com foto. Assim, a classe operária foi registrada pela primeira vez, por Horta, em fotos tamanho 3 x 4 centímetros ou mesmo de corpo inteiro. As séries de retratos, feitos de centenas de pessoas, tornam Assis Horta um precursor do registro e salvaguarda da memória do trabalhador brasileiro e coloca seu nome, definitivamente, na história da nossa fotografia. Estas séries de retratos já foram reunidas em exposição, que passou com êxito por várias cidades brasileiras. Em Belo Horizonte, a mostra foi exibida, em 2015, no Palácio das Artes.
