
O teatro da Biblioteca Pública Estadual de Minas Gerais, no Circuito Liberdade, ficou cheio nesta segunda-feira (16) para prestigiar o lançamento da edição especial do Suplemento Literário dedicada ao intelectual mineiro Silviano Santiago. Em tom de celebração, o evento contou com a presença do escritor, que autografou livros e participou de um bate-papo com o secretário de cultura, Angelo Oswaldo, de quem é amigo pessoal, e do pesquisador da UFMG e organizador do número especial do Suplemento, Wander Melo Miranda. Fundada por Murilo Rubião em 1966, a publicação é uma iniciativa da Secretaria de Estado de Cultura e é considerada uma das principais publicações do gênero no país.
A noite também fez uma ponte entre o teatro e a literatura com a performance poética dos integrantes do Palavra Viva, grupo de jovens que encenou trechos da obra do escritor e envolveu o público presente, inclusive o autor. “Minha maior alegria ao receber uma homenagem é quando ela é prestada por pessoas mais jovens que eu. Estou muito contente com os belos artigos que compõem o Suplemento e com a apresentação dos jovens, sobretudo pela coragem na escolha dos textos. Comentei com o Secretário de Cultura Angelo Oswaldo que meu passado me condena. Saio daqui homenageado e condenado”, brincou o escritor octogenário.
Autor de romances como “Em Liberdade”, “Heranças” e “Machado”, Silviano é um dos mais respeitados escritores brasileiros em atividade. Sua obra acadêmica tem igual respaldo entre os estudiosos. Silviano foi uma espécie de conexão do Suplemento com diversos pesquisadores e escritores do mundo. O secretário de Estado de Cultura Angelo Oswaldo lembrou a importância do intelectual para a literatura brasileira e mundial e destacou seus laços com a publicação. “Silviano foi um dos primeiros colaboradores do Suplemento. Ele percebeu o papel fundamental do caderno em Minas Gerais e no país, percebeu a relevância daquela voz que clamou no deserto durante os anos de exceção. Ele ajudou a disseminar o Suplemento fora do país”, pontuou. Angelo também destacou o simbolismo da homenagearem ao autor de “Stella Manhattan”. “Silviano escreveu o que bem quis em poesia e prosa, construiu uma obra muito importante, que perturba e que inquieta. É muito importante celebrá-la neste momento em que estão querendo estabelecer limites para a criação artística no país”, completou Angelo.
Em tempos em que a censura paira sobre a produção de artistas e movimentos culturais, o evento também foi marcado por discursos em favor da diversidade e da importância das manifestações artísticas. Lucas Guimaraens, superintendente de Bibliotecas Públicas e Suplemento Literário, relembrou uma frase do autor homenageado presente no livro “Machado”. “Nesse momento definitivo em que a vida e arte se imbricam, a beleza será convulsiva ou não será”.
No palco do teatro, Silviano Santiago, Angelo Oswaldo e Wander Melo Miranda, brindaram os presentes com histórias sobre o Suplemento Literário, que completou 51 anos em 2017, e a carreira do homenageado. “A obra de Silviano é uma obra variada, múltipla, que instiga a pensar. Talvez o que mais o diferencie da maioria dos escritores da geração dele e dos atuais seja essa capacidade de se abrir para o mundo e fazer um trabalho que contemple uma reflexão poética sobre a contemporaneidade”, apontou Wander.
Em sua fala, Silviano Santiago reforçou a relevância do Suplemento Literário para diversas gerações e relembrou histórias sobre sua relação com o caderno. “O mais importante da festa não é o homenageado, é o Suplemento. Desde o início do Suplemento fui colaborador em virtude da minha amizade com Murilo Rubião e sempre colaborei com a publicação em suas mais variadas fases”, comentou o autor. Silviano também lembrou de sua amizade com o secretário de Estado de Cultura. “Quero agradecer ao meu amigo Angelo Oswaldo, que conheci ainda na juventude quando ele ainda morava com os pais na rua Paracatu. Angelo foi o primeiro a escrever uma resenha sobre meu livro acerca de Carlos Drummond de Andrade para um jornal”, relembrou.
O Suplemento Literário de Minas Gerais (SLMG) foi criado em 1966 e segue como um dos mais respeitados periódicos do gênero no Brasil. Integrado à Superintendência de Bibliotecas Públicas e Suplemento Literário, o jornal tem periodicidade bimestral, com seis edições ao ano, e dois especiais semestrais, totalizando oito edições do SLMG por ano.