Em comemoração aos cem anos de nascimento de um dos mais importantes diretores da história do cinema e um dos precursores da sétima arte africana, o Cine Humberto Mauro promove a mostra “O Cinema de Ousmane Sembène, um tributo ao centenário do pioneiro dos cinemas africanos”. Dos dias 1º a 8, serão exibidos nove longas-metragens e quatro curtas do realizador senegalês. O evento é gratuito, com retirada de ingressos na bilheteria do cinema uma hora antes da sessão.
A mostra traz pela primeira vez a Belo Horizonte todos os nove longas-metragens realizados pelo diretor e outros quatro curtas. A programação ainda conta com um conjunto de curtas-metragens mineiros e brasileiros para evidenciar a contemporaneidade do pan-africanismo presente na obra de Sembène.
Um dos destaques da programação é o filme “Negra De” (1966), que terá sessão apresentada pela pesquisadora e curadora Janaína Oliveira e por Alain Sembène, filho e detentor das obras de Ousmane Sembène, que conversa por vídeo com o público. Outro foco de atenção é a obra “Moolaadé” (2004), que aborda a violência da mutilação genital sofrida pelas mulheres e terá sessão comentada pela pesquisadora e curadora Alessandra Brito.
O evento contará também com sessões comentadas, publicações e um curso sobre cinemas africanos, com enfoque especial no diretor. Para Vitor Miranda, gerente do Cine Humberto Mauro, é muito importante realizar uma retrospectiva dedicada ao diretor senegalês, pois é comum uma certa generalização dos cinemas produzidos na África.
“O continente africano é imenso, com muitos autores e autoras, e diversas visões de mundo. Estamos propondo um mergulho na autoria de Sembène por meio do acesso ao conjunto de sua obra. Teremos muitas ações formativas, debates e muitas sessões comentadas. Ainda vamos realizar um curso de cinemas africanos focado na obra do diretor senegalês”, explica Vitor.
Sembène e sua obra
Nascido na cidade pesqueira de Zinguinchor, no Senegal, Sembène é considerado por muitos como o grande pioneiro do cinema africano. Escritor e ativista incansável, Sembène elegeu o cinema para falar com todo o continente e atuar em defesa dos povos africanos contra os danos da colonização europeia, que permaneceu existindo mesmo após a independência nos anos de 1960.
Os filmes de Ousmane inauguraram novas possibilidades para ver e pensar a África, lançando as bases estéticas e políticas para um cinema feito por africanos, com histórias africanas e para um público africano. Sembène trouxe para sua filmografia temas sensíveis, abordando pautas que colocavam o matriarcado africano como centro da resistência no continente. Além disso, Ousmane tratou sobre a mutilação genital feminina e também abordou o islamismo em seus filmes. O cinema de Sembène se caracteriza por planos abertos, panorâmicos e planos sequências.
Curso “Ousmane Sembène, o cinema e a África”
A atuação de Sembène foi muito além das telas. O cineasta é considerado um verdadeiro catalisador na criação de meios de produção e circulação de filmes, fundando e estimulando o desenvolvimento de debates e festivais que hoje marcam a trajetória das cinematografias africanas.
O curso gratuito oferecido pelo Palácio das Artes pretende refletir sobre as múltiplas dimensões da obra do realizador senegalês, considerando ainda suas ações no campo das políticas de cinema no continente, o diálogo com os cineastas de sua geração e sua influência nas gerações seguintes.
O curso acontece no Cine Humberto Mauro, neste sábado (3), das 14h às 19h15, e será ministrado pela pesquisadora e curadora Janaína Oliveira. A carga horária é de 5 horas. As inscrições podem ser realizadas por meio deste link.
Sobre Janaína Oliveira
Pesquisadora e curadora independente. É doutora em História, professora no IFRJ – Instituto Federal do Rio de Janeiro, e foi Fulbright Scholar no Centro de Estudos Africanos na Universidade de Howard, em Washington D.C. (EUA). Desde 2009, desenvolve pesquisa sobre as cinematografias negras e africanas, atuando também como curadora, consultora, júri e painelista em diversos festivais e mostras de cinema no Brasil e no exterior.
Em 2019 realizou a mostra “Soul in the eye: Zózimo Bulbul’s legacy and the Contemporary Black Brazilian Cinema” no IFFR – International Film Festival Rotterdam (Países Baixos). Foi também consultora de filmes da África e da diáspora negra para o Festival Internacional de Locarno (Suíça) entre 2019 e 2020. É idealizadora e coordenadora do FICINE – Fórum Itinerante de Cinema Negro e foi a programadora do Flaherty Film Seminar (EUA) em Julho de 2021.
Entre 2021 e 2022, Janaína fez a curadoria internacional das mostras principais das duas edições Semana de Cinema de Negro de Belo Horizonte (Brasil). Atualmente, além de participar de outras iniciativas curatoriais, ela é Presidente do Comitê de Seleção de filmes de documentário de longa-metragem do BlackStar Film Festival (EUA).
Cine Humberto Mauro
Um dos mais tradicionais cinemas de Belo Horizonte, o Cine Humberto Mauro foi inaugurado em 1978. Seu nome homenageia um dos pioneiros do cinema brasileiro, o mineiro Humberto Mauro (1897-1983), grande realizador cinematográfico. Com 129 lugares, possui equipamentos de som dolby digital e para exibição de filmes em 3D e 4K.
Nestes 43 anos de existência, a Fundação Clóvis Salgado tem investido na consolidação do espaço como um local de formação de novos públicos a partir de programação diversificada, bem como à criação de mecanismos de estímulo à produção audiovisual com a realização do tradicional FestCurtasBH – Festival Internacional de Curtas de Belo Horizonte, e o Prêmio Estímulo ao Curta-metragem de Baixo Orçamento.
O Cine Humberto Mauro também é um importante difusor do conhecimento ao promover cursos, seminários, debates e palestras. Sessões permanentes e comentadas também têm espaço cativo a partir das mostras História Permanente do Cinema, Cinema e Psicanálise e Curta a Tela, entre outros. Todas as atividades do Cine Humberto Mauro são gratuitas.
Fundação Clóvis Salgado
Com a missão de fomentar a criação, formação, produção e difusão da arte e da cultura no Estado, a Fundação Clóvis Salgado (FCS) é vinculada à Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult). Artes visuais, cinema, dança, música erudita e popular, ópera e teatro, constituem alguns dos campos onde se desenvolvem as inúmeras atividades oferecidas aos visitantes do Palácio das Artes, CâmeraSete – Casa da Fotografia de Minas Gerais – e Serraria Souza Pinto, espaços geridos pela FCS.
A Instituição é responsável também pela gestão dos corpos artísticos – Cia. de Dança Palácio das Artes, Coral Lírico de Minas Gerais e Orquestra Sinfônica de Minas Gerais –, do Cine Humberto Mauro, das Galerias de Arte e do Centro de Formação Artística e Tecnológica (Cefart).
A Fundação Clóvis Salgado também é responsável pela gestão do Circuito Liberdade. Em 2020, quando celebrou 50 anos, a FCS ampliou sua atuação em plataformas virtuais, disponibilizando sua programação para público amplo e variado. O conjunto dessas atividades fortalece seu caráter público, sendo um espaço de todos e para todos.
Serviço
Local: Cine Humberto Mauro - Av. Afonso Pena, 1.537, Centro - Belo Horizonte
Informações: 3236-7400
Ingresso gratuito