O dia 16 de julho de 2016 foi de grande festa para Minas Gerais e para nossa capital Belo Horizonte. Nessa data, o Conjunto Moderno da Pampulha, obra de Oscar Niemeyer, recebeu o título de Patrimônio Mundial, em Istambul, na Turquia, durante a 40ª Reunião do Comitê do Patrimônio Mundial da Unesco.
Na ocasião, também foram contempladas 17 casas de Le Corbusier, o grande mestre mundial da arquitetura moderna. Niemeyer e Le Corbusier representam, então, e de forma conjunta, a modernidade em suas mais genuínas expressões.
Trabalhamos muito até chegar ali. Iniciamos o dossiê em 2012, enquanto presidente da Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte. Em 2015, foi realizada a entrega do documento à Unesco. A rápida aprovação do dossiê reforça a grandeza da genialidade de Niemeyer e a visão estratégica do então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, que viabilizou o projeto.
Um cassino, uma igreja, uma casa de baile, um clube e um hotel. À exceção do hotel, o conjunto se concretizou com a inauguração em 16 de maio de 1943, completando 80 anos hoje. A Pampulha foi o primeiro bem cultural a receber o título de Paisagem Cultural do Patrimônio Moderno.
Inserida no Modernismo Brasileiro, seu fermento encontra-se na efervescência cultural da década de 1920, quando se reúne em São Paulo um pequeno grupo de intelectuais para discutir a então contemporânea modernidade.
Paralelamente, os pensamentos e os projetos dos mestres da arquitetura moderna internacional também encontram, no meio intelectual brasileiro, condições para a sua propagação. Mário da Silva Brito pontua que, desde pouco antes de 1920, já existiam algumas condições socioculturais que permitiram o modernismo na arquitetura chegar ao Brasil com seus postulados teóricos. Ele destaca a exposição de Anita Malfatti, em 1917, a Semana de Arte Moderna, em 1922, e o “Manifesto Pau Brasil”, de Oswald de Andrade, em 1924.
A euforia nacionalista, que vai marcar a arquitetura moderna, era uma das grandes aliadas dos intelectuais, embora marcada por contradições: havia uma vontade de progredir e romper com o passado europeu, voltando-se para as raízes coloniais brasileiras, num processo de revalorizar as tradições históricas. Assim se desenvolveu nossa arte moderna e nossa arquitetura. Fundada no nacional e influenciada fortemente por Aleijadinho e o Barroco Mineiro.
A Pampulha, tal como a modernidade brasileira, foi além do racionalismo europeu na arquitetura ou do rompimento com o passado nas vanguardas artísticas. Como seu precedente, o rococó de Aleijadinho, Niemeyer inseriu em suas formas, a curva e a beleza enquanto elemento fundante. O Próprio Le Corbusier passou a fazer da natureza um tema e, em contrapartida, a arquitetura brasileira assumiu a inspiração no legado do arquiteto francês.
Em 1929, Le Corbusier realizou uma conferência histórica no Rio de Janeiro. Aprendemos dele que a geometria é a resposta da razão à natureza, atendendo ao princípio de impor uma grande forma, fundada na lógica cartesiana e no cálculo racional.
A maturidade da arquitetura moderna Brasileira emerge em 1942 na Pampulha. Nela já podemos verificar os princípios expostos por Le Corbusier, mas utilizados com uma linguagem própria e claramente influenciada por uma cultura da brasilidade que mais tarde originaria Brasília.
Leônidas Oliveira, Secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais
Foto: Pedro Vilela