Um álbum de música de câmara contemporânea feito e interpretado por mulheres
De que modo as mulheres compositoras expressam suas ideias no mundo de hoje? Que temas têm provocado suas composições? E na passagem do século XIX ao XX? Como os processos culturais de diferentes épocas influenciam sonoridades, estéticas musicais e ganham forma no conjunto de instrumentos violino, viola, violoncelo e piano? Hoje, 100 anos após a Semana de Arte Moderna e sua manifestação em oposição à cultura e à arte de teor conservador, qual a participação de mulheres compositoras no universo da música erudita? Atentas às brumas do futuro, às fúrias da banalização da vida neste século XXI e à busca por respostas a essas perguntas, as musicistas do Quarteto Boulanger – Jovana Trifunovic (violino/Sérvia), Flávia Motta (viola/Brasil), Lina Radovanovic (violoncelo/Sérvia) e Ayumi Shigeta (piano/Japão – lançam, neste mês de abril, o CD Entre brumas e fúrias, álbum de música de câmara contemporânea, feito e interpretado por mulheres. O lançamento do disco será no dia 9 de abril, às 18h, na Fundação de Educação Artística – FEA, em Belo Horizonte (MG), com ingressos a R$ 10 (inteira) e R$ 5 (meia), e, nos dias 19 e 21 de abril, na Praça das Artes – Sala do Conservatório, no complexo do Theatro Municipal de São Paulo, com ingressos a R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia).
O Quarteto Boulanger é formado pelas musicistas Jovana Trifunovic (violino/Sérvia), Flávia Motta (viola/Brasil), Lina Radovanovic (violoncelo/Sérvia) e Ayumi Shigeta (piano/Japão). Todas com vasta experiência internacional, as quatro acabaram se encontrando no Brasil por meio da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. A convivência de quase uma década e a vontade de criar sons na intimidade da música de câmara motivaram, em 2016, a formação do Quarteto e, já em 2017, a gravação do álbum Folhagens, com obras do compositor contemporâneo Harry Crowl.
O nome do grupo é uma expressa homenagem a uma das maiores mulheres da História da Música, a compositora, regente e professora Nadia Boulanger (França, 1887-1979). Cada vez mais inspiradas em Boulanger, as quatro componentes do grupo têm buscado, com suas visões e ideias sobre o trabalho musical em nível de excelência, incrementar a pesquisa e a divulgação do campo composicional feminino para sua formação musical.
“Todas nós levamos cerca de 20 anos tocando música erudita de diferentes gêneros e estilos, tanto no Brasil quanto no exterior. São programas sempre muito variados, com compositores famosos e, também, compositores pouco conhecidos. Mas a verdade é que, poucas vezes, compositoras, mulheres, fizeram parte do enorme repertório que já ensaiamos e tocamos”, relata a violista do Quarteto, Flávia Motta.
Tornou-se um desafio mundial conquistar a escuta de múltiplas vozes nas sociedades modernas e isso se reflete na música de concerto. Em recente pesquisa da Fundação Donne (donne-uk.org), com sede em Londres, dentre 100 orquestras de 27 países analisados na temporada 2020-2021, apenas 5% das 14.747 obras apresentadas foram compostas por mulheres. Mais ainda: apenas 1,11% das peças foram compostas por mulheres negras e asiáticas. Outro dado alarmante é que, de todo o repertório, somente 2,43% corresponde a obras compostas por homens negros e asiáticos. “A história — diz o chefe executivo da Royal Philharmonic Society, James Murphy — fez o brilhante trabalho de nos fazer pensar que a música clássica é branca e masculina. Não é”.
É nesse contexto que o próprio álbum Entre brumas e fúrias foi ganhando forma e estimulando as musicistas do Quarteto Boulanger a gravar/encomendar cinco peças a cinco compositoras brasileiras, com idades entre 37 e 88 anos. “Cada uma tem seu próprio estilo, sua própria linguagem. E cada uma também nos ofereceu um tema diferente, sem que a gente tivesse pedido que fosse assim, seja nas duas obras que já estavam prontas — mas ainda inéditas —, seja nas obras encomendadas especialmente para esse trabalho”, comenta Flávia Motta. Ao final, diz a pianista Ayumi Shigeta, “juntas, compositoras e intérpretes tornamos visíveis e audíveis nossas visões musicais e percepções sobre a época em que vivemos. Creio que, dessa forma, podemos contribuir para a descoberta de outras nuances e formas de interpretação da vida e da arte”.
Gravado com recursos do Fundo Municipal de Cultura de Belo Horizonte, o CD estará disponível, nas principais plataformas de streaming, a partir de 9 de abril, data do lançamento. No Brasil, o álbum será distribuído pela Tratore, que disponibiliza a venda pelo site www.tratore.com.br, no valor de R$ 20, assim como nas lojas digitais (amazon.com.br, americanas.com e submarino.com, dentre outras) e nas lojas especializadas, como Acústica CD (rua Fernandes Tourinho, 300, Savassi) e Discoplay (rua Tupis, 70, Centro), em Belo Horizonte (MG).
O Quarteto Boulanger
Formado pelas musicistas Jovana Trifunovic (violino/Sérvia), Flávia Motta (viola/Brasil), Lina Radovanovic (violoncelo/Sérvia) e Ayumi Shigeta (piano/Japão), todas com vasta experiência internacional. As quatro acabaram se encontrando, no Brasil, por meio da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. A convivência de quase uma década e a vontade de criar sons na intimidade da música de câmara motivaram, em 2016, a formação do Quarteto e, já em 2017, a gravação do álbum Folhagens, com obras do compositor contemporâneo Harry Crowl.
Entre brumas e fúrias é o segundo álbum do Quarteto, e foi gravado em setembro de 2021, em Belo Horizonte, no estúdio New Doors Vintage Keys, sob a direção artística e de gravação de Dirceu Saggin. Além do álbum e do concerto de lançamento, realizados com recursos do Fundo Municipal de Cultura de Belo Horizonte (Lmic-PBH/2020), o projeto desenvolveu uma série com três episódios sobre música “tradicional” e “não convencional”. Os vídeos estão disponíveis no canal YouTube do Quarteto e trazem os temas “música contemporânea”, “mulheres e música de câmara” e “vida & arte”.
Serviço:
Lançamento CD “Entre brumas e fúrias” – Quarteto Boulanger
Belo Horizonte (MG) – 9 de abril, às 18hLocal: Fundação de Educação Artística – FEA - Sala Sérgio Magnani
Dia 9 de abril, às 18h – Evento presencial
Ingressos RS 10 (inteira) e R$ 5 (meia)
Vendas na bilheteria da FEA 1h antes do evento (Rua Gonçalves Dias,320 – Funcionários – Belo Horizonte/MG)
Classificação livre
Imagem: Alexandre Rezende