Iniciativa é baseada em diferentes eixos temáticos que buscam reforçar a identidade negra no estado e elevá-las a patrimônios culturais
A Cultura Negra como patrimônio do estado. É esse o objetivo do Afromineiridades – Programa de Proteção da Cultura Afro em Minas Gerais, iniciativa do Governo de Minas por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo e do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha). O programa foi apresentado na terça-feira (29/3), em solenidade presencial realizada no Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte.
Parte fundamental da identidade cultural de Minas Gerais, o povo negro será celebrado com o “Afromineiridades”. O programa é uma importante iniciativa para compreender e reconhecer a complexidade das contribuições dos grupos de matriz africana que formam as culturas mineiras. Com esse programa, a Secult e o Iepha propõem uma série de ações, envolvendo lideranças, intelectuais negros, comunidades quilombolas e povos de terreiro para criar caminhos para melhor entendimento dos conhecimentos afromineiros.
A abertura do evento contou com uma recepção aos convidados feita por grupos musicais das comunidades de matriz africana, com o Pai Ricardo de Moura e a cantora Aline Calixto representando os povos tradicionais, acompanhados dos tambores sagrados e entoação de cantos para marcar o início dos trabalhos. A solenidade de lançamento foi transmitida ao vivo pelo Canal de YouTube da Secult. Assista à íntegra AQUI.
Também participaram da solenidade de lançamento do Programa Afromineiridades, o secretário de estado de Cultura e Turismo, Leônidas Oliveira, o presidente do Iepha, Felipe Pires, o Promotor de Justiça e coordenador da Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais, Marcelo Mafra, o Conselheiro Adriano Maxmiliano, titular da cadeira de Culturas Afro-brasileiras do Consec.
Ainda, no evento, a coordenadora-geral do Centro Nacional de Africanidade e Resistência Afro-Brasileira (Cenarab), Makota Célia Gonçalves Souza, a Diretora de Políticas de Reparação e Promoção de Igualdade Racial, da Secretária Municipal de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania, da Prefeitura de Belo Horizonte, Makota Kizandembu e Mírian Aprígio Luizes, do Quilombo dos Luizes.
De acordo com o secretário de estado de Cultura e Turismo, Leônidas Oliveira, o Afromineiridades – Programa de Proteção da Cultura Afro em Minas Gerais é um primeiro passo para o registro da cultura negra como patrimônio do estado. Para o titular da Secult, a iniciativa foi pensada para proteger a história do povo negro em Minas, bem como dar mais relevância às inúmeras contribuições para a formação da identidade cultural em Minas Gerais.
“Fazer o inventário dos nossos povos tradicionais é um é um passo importantíssimo para a cultura afro de Minas Gerais, que ainda está muito arraigada no erudito. Proteger essa bela história, repleta de simbolismos, ancestralidade e todas as demais características e elementos que fazem parte da cultura negra em Minas é uma diretriz da Secult e uma política pública importantíssima, garantindo que todas as manifestações culturais oriundas das raízes negras possam, também, ser contempladas em mecanismos de incentivo”, disse.
A Diretora de Políticas de Reparação e Promoção de Igualdade Racial, da PBH, Makota Kizandembu, destacou que o início do programa de proteção à cultura negra é um campo importante para entender os profundos, e antigos, laços de Minas Gerais com os povos africanos que chegaram na região ainda no período da colônia. “Nós temos a presença de três povos que construíram essa nação e esse estado. Foram eles que deram origem a diversas manifestações e mantiveram o contínuo com África”, pontuou.
O promotor de Justiça e coordenador da Promotoria Estadual de Defesa do Patrimônio Cultural e Turístico de Minas Gerais, Marcelo Mafra, pontuou que a iniciativa da Secult e do Iepha, para além de proteger a memória das raízes africanas do estado, cumpre importante papel no combate ao racismo. “O racismo religioso é uma faceta do racismo estrutural que permeia a sociedade. Esse projeto vai dar visibilidade à construção histórica do povo preto em Minas Gerais, e que sofreu um apagamento histórico”, declarou.
Proteção à memória e à história
Segundo o presidente do Iepha, Felipe Pires, o lançamento do programa Afromineiridades é o início de um processo de estudos e entendimentos sobre a contribuição da cultura negra para o patrimônio cultural do estado, em que as diversas manifestações serão discutidas e apresentadas, para, num momento futuro, se tornarem elementos protegidos. “É o momento de escuta, tanto do Iepha quanto da Secult, que, a partir dessas discussões, dessas conversas, vão começar a levantar as informações para, de fato, dar às afromineiridades um conceito de patrimônio cultural de Minas Gerais”, afirmou o presidente.
Tendo como tema central a Proteção da Cultura Afro em Minas Gerais, o Programa se divide nos eixos temáticos: o inventário dos povos de terreiro de Minas Gerais e o reconhecimento dos congados e dos quilombos em contexto urbano como Patrimônio Cultural do Estado. As discussões e reflexões se desdobrarão em quatro ações que ocorrerão entre os meses de março e junho deste ano. Trata-se de um momento singular para escuta e diálogo com mestres e mestras das culturas provenientes da ancestralidade africana de modo a balizar e criar novos caminhos para as ações de reconhecimento e salvaguarda do patrimônio cultural de Minas Gerais.
Uma extensa programação vai aprofundar a reflexão sobre a contribuição dos grupos negros na formação sociocultural em Minas. As ações que envolvem o Afromineiridades estão divididas em: Lançamento do Programa de Proteção da Cultura Afro em Minas Gerais – Afromineiridades; Seminário sobre a proposta de Registro dos Congados e Reinados de Minas Gerais como Patrimônio Cultural Imaterial; Seminário sobre a proposta de Registro das Comunidades Quilombolas em contexto urbano de Minas Gerais como Patrimônio Cultural Imaterial; e Seminário sobre a proposta de Mapeamento dos Povos e Comunidades de Terreiro de Minas Gerais.
Cada uma dessas ações contará com eventos específicos, organizados no modelo de “Fórum de escuta”, metodologia que permite a identificação das principais demandas e necessidades dos representantes de cada segmento identitário. Além do Fórum, uma mesa de debate permitirá uma escuta e reflexão qualificada com a proposta de aprofundar a discussão sobre o conceito que atravessa a proposta como um todo: as afromineiridades.
Ciclo de debates
A programação do Afromineiridades ainda contempla outras ações. Na quarta-feria (30/3), será realizado o Fórum de Discussão “As afromineiridades: extensões e limites de uma categoria em construção”. Será um espaço no qual integrantes dos segmentos identitários de todo o estado poderão contribuir com a reflexão e entendimento do que vem a ser “as afromineiridades” a partir de uma perspectiva mais aprofundada a respeito da diversidade na comunidade negra do estado. Os interessados em participar do fórum devem realizar inscrição prévia neste link.