O racismo no Brasil é fruto de mais de três séculos de escravidão. A ausência de políticas de integração da população liberta após a abolição, somada a não ressignificação da mentalidade escravocrata, conformaram o que hoje chamamos de racismo estrutural. Isto é, um conjunto de práticas que ainda faz com que negros sejam desfavorecidos, subjugados e silenciados nas mais diversas categorias sociais.
São mais de cento e trinta anos desde a assinatura da Lei Áurea (1888), e as pautas que reforçam a equidade étnico-racial ainda são necessárias. É importante ressaltar que a ausência de negros nos espaços públicos é um fenômeno que deve ser sempre questionado. É preciso reforçar a presença para reafirmar a existência, tal como inferir protagonismo de minorias, que buscam sua inserção social e seu lugar de fala. Tal condição é essencial na luta contra o preconceito enraizado.
Sob tal ótica, a nova exposição temporária “A Negritude na Poética Modernista de Guignard” desenvolve o conceito de negritude – condição simbólica da consciência, orgulho e identidade negra – evidenciando o espaço do Museu Casa Guignard como um local de representação e representatividade. A exposição tem como enfoque os retratos individuais e coletivos de pessoas afrodescendentes pintados por Alberto da Veiga Guignard ao longo de sua trajetória artística. A ideia principal da mostra é despertar a percepção dos objetos artísticos como elementos de mediação das relações étnico-raciais, ou seja, a arte como componente de valoração de representatividade de grupos identitários.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística | IBGE, a cidade de Ouro Preto, sede do Museu Casa Guignard, apresenta uma população majoritariamente negra ou parda, que se relaciona com o passado colonial da região. A cidade se formou em função da extração aurífera, atividade econômica que deslocou o eixo populacional para a região e trouxe consigo um grande fluxo de pessoas, em especial de africanos, que foram escravizados. Africanos trazidos da Nigéria, do Congo, de Gana e de Camarões, onde eram especialistas na atividade minerária, e que fazem parte da ancestralidade de uma parcela significativa da população ouropretana.
A cidade foi construída por mãos negras. Uma ancestralidade cujo legado está presente tanto na constituição étnico-racial da população, quanto na arte, na língua, na cultura, na culinária e na religiosidade do povo ouropretano. Partindo de tal contexto, a exposição “A Negritude na Poética Modernista de Guignard” é uma exaltação à negritude, tendo como ponto de partida a obra de Guignard, que será tomada como mediadora do processo de valorização desta parcela da população, redimensionando a importância dos afrodescendentes em um contexto de produção artística. Ao mesmo, a exposição propõe uma homenagem à população local, exaltando ouropretanos que apresentam algum protagonismo na luta por direitos humanos, igualdade racial e tantas outras causas sociais, através da exposição de seus retratos fotográficos.
Dessa forma, o espaço expositivo do Museu Casa Guignard torna-se um elemento de mediação das relações étnico-raciais de Ouro Preto, uma cidade formada a partir do sangue e do suor de africanos escravizados. A arte se converte em componente de representação, enquanto a população local torna-se protagonista em sua representatividade.
O Museu Casa Guignard é um espaço aberto à inclusão e ao debate, inserindo a comunidade ouropretana em lugar de destaque. Dividida em três módulos, a exposição trabalha com retratos coletivos e individuais, com pessoas negras em situação de orgulho, cuja pintura não evidencia o pitoresco, a tristeza, muito menos a desilusão. Retratos do passado, que se misturam a fotografias do presente, e que representam o povo negro da cidade que Guignard tanto amou.
A exposição “A Negritude na Poética Modernista de Guignard” conta com patrocínio da Cemig, por meio da Lei Estadual de Incentivo à Cultura de Minas Gerais.
Alberto da Veiga Guignard
Alberto da Veiga Guignard nasceu em Nova Friburgo, RJ, em 1896 e faleceu em Belo Horizonte, em 1962. O artista estudou na Europa e, na década de 1930, atuou intensamente no Rio de Janeiro. Em 1944, convidado pelo então prefeito de Belo Horizonte, Juscelino Kubitschek, criou a Escola Guignard, pertencente ao Governo do Estado.
Guignard foi responsável por mudar as perspectivas da criação artística em Minas Gerais. É considerado um dos maiores pintores e desenhistas brasileiros do século XX. Encantado pela paisagem das cidades históricas de Minas, especialmente Ouro Preto, mitificou o tema em uma série de pinturas e desenhos que o projetou nacional e internacionalmente.
Museu Casa Guignard
Localizado em Ouro Preto, o Museu Casa Guignard foi inaugurado em 1987 com o intuito de reunir, conservar e exibir obras de Alberto da Veiga Guignard (Rio de Janeiro, 1896 – Belo Horizonte, 1962).
A edificação em que o Museu está instalado é datada do início do século XIX e compreende, em seu interior, um acervo formado por pinturas, desenhos, fotografias e documentos textuais relacionados à vida de Guignard. Merecem destaque no acervo o conjunto de retratos executados pelo artista e a coleção de Cartões de Guignard para Amalita, confeccionados entre os anos de 1932 e 1937.
O Museu desenvolve um programa de ações educativas inspirado nas lições e experiências de Guignard como professor. Uma dessas ações é o projeto Passos de Guignard, que demarca e explora os locais da cidade onde o artista produziu grande parte de suas obras.
Serviço:
Exposição Temporária “A Negritude na Poética Modernista de Guignard”
Período de realização: 24 de setembro de 2021 a 12 de junho de 2022
Local: Espaço Priscila Freire (Sala de Exposições Temporárias do Museu Casa Guignard
Horário de visitação: Terça a sexta – 12h às 18h/ Sábados, domingos e feriados – 9h às 15h
Museu Casa Guignard
Rua Conde de Bobadela (Rua Direita), 110 – Ouro Preto/ MG CEP 35.400-000
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