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De gaúcho para gaúcho, Fabrício Carpinejar analisa obra de Mário Quintana

 

A edição do projeto Letra em cena. Como ler... do dia 4 de julho traz um pouco da poesia gaúcha, sob o olhar de um gaúcho. A suavidade do texto de Mário Quintana será lido e analisado pelo jornalista, poeta e cronista, Fabrício Carpinejar. A palestra terá início às 19h e será realizada no Café do Centro Cultural Minas Tênis Clube. As inscrições podem ser feitas, gratuitamente, pelo site da Sympla.

Carpinejar teve o privilégio de ver Mário Quintana desde cedo frequentando a sua casa. Filho do casal de poetas Maria Carpi e Carlos Nejar, ele via Quintana sempre, mas, como toda criança, não entendia o tamanho do poeta à sua frente. “Via o Quintana na infância, almoçava lá em casa, mas ele era adulto e adulto atrai a atenção da criança apenas por dez minutos. Eu queria jogar futebol naquela época”, conta. Para Carpinejar, o poeta tem como principal característica ser bem definido. “O autor une as pontas da infância e da velhice. Ele é oito e oitenta. Tem a molecagem de um guri e a experiência sábia de um velho”, explica.

O texto de Quintana, segundo Carpinejar tem um humor ácido e por isso agrada e sensibiliza tantos.  “’Nunca se deve tirar o brinquedo de uma criança — Tenha ela oito ou oitenta anos!’ Ele ri e fala sério ao mesmo tempo, a ponto de confundir. Trata-se de uma alma de violino escondida num pandeiro. Quintana se fingia de morto para ser sarcástico. Escreveu como se estivesse morto, com toda a liberdade e excentricidade, e, agora morto, parece cada vez mais vivo”, diz.

Mário Quintana não deixou herdeiros, nunca se casou e nunca teve casa, sempre morou em hotéis no Rio Grande Sul, estado onde nasceu. Para uma amiga, que achava que o quarto onde estava morando era pequeno, disse uma vez “Eu moro em mim mesmo. Não faz mal que o quarto seja pequeno. É bom, assim tenho menos lugares para perder as minhas coisas”. Carpinejar explica que “ele (Quintana) não é o poeta da casa, mas do mundo. Da rua. Morava em hotel e isso influenciou seu olhar, é um eterno turista na intimidade. Talvez seja o autor que mais fez versos para os sapatos. Porque o sapato é o principal símbolo de quem não tem lar”, afirma.

O poeta tentou, algumas vezes, ser um imortal da Academia Brasileira de Letras, mas nunca teve o número necessário de votos. Luís Fernando Veríssimo, escritor e conterrâneo do poeta, disse uma vez sobre esta questão que: Se Mário Quintana estivesse na ABL, não mudaria sua vida ou sua obra. Mas não estando lá, é um prejuízo para a própria Academia“.

Para ler Quintana é necessário um olhar atento. O poeta engana e, com uma falsa docilidade, fala coisas cruéis. Segundo Carpinejar para ler a poesia dele é preciso ter o pé atrás. “Para ler Quintana é preciso desconfiar. Parece fofo, mas é ferino. Os diminutivos são para enganar. Solta verdades cruéis a todo momento escondido na fachada de bom velhinho”, constata.

Está no livro “Esconderijos de Tempo”, com data da primeira publicação de 1980, a poesia predileta de Mário Quintana do Carpinejar, “As mãos de meu pai”. “As tuas mãos têm grossas veias como cordas azuis /sobre um fundo de manchas já cor de terra /— como são belas as tuas mãos — /pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram /na nobre cólera dos justos...”.

O projeto Letra em Cena. Como ler… é uma ação do Centro Cultural Minas Tênis Clube com o escritor, jornalista e curador José Eduardo Gonçalves, que tem como objetivo levar grandes clássicos da literatura nacional, de forma fácil e leve, para o grande público. Nos encontros, que em 2017 serão oito, há uma análise da obra feita por um especialista no autor contemplado e a leitura dos textos por um ator da cena mineira.

Letra em cena. Como ler…Mário Quintana – Palestrante Fabrício Carpinejar

Data: 4 de julho
Horário:  Terça-feira , às 19h
Classificação: livre
Incrições clique aqui