Wolfgang Amadeus Mozart não só nasceu num ambiente musical, mas fez dele palco aberto para experimentações ou simples entretenimento descontraído. No dia 14 de maio, às 18h, na Sala Minas Gerais, a Filarmônica de Minas Gerais apresenta obras compostas dentro do ambiente familiar, começando com três pequenas joias de seu pai, Leopold Mozart: A viagem musical de trenó, Concerto para trombone alto em Ré maior e Sinfonia dos Brinquedos. Em seguida, serão interpretadasduas árias escritas para sua cunhada, Aloysia Weber: Mia speranza adorata – Ah, non sai qual pena, K. 416 e No, no, che non sei capace, K. 419. O repertório se completa com o Concerto para dois pianos em Mi bemol maior, K. 365, composto para ele e sua irmã. Sob a batuta do maestro Fabio Mechetti, o concerto tem como solistas o trombonista Mark John Mulley, a soprano Cláudia Azevedo e o duo de pianistas Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini.
O repertório
Leopold Mozart (Alemanha, 1719-Áustria, 1787) e as obras A viagem musical de trenó (1755); Concerto para trombone alto em Ré maior (1760); e Sinfonia dos Brinquedos (1769)
A música deLeopold Mozart continua pouco conhecida e sem cronologia definida. Ele compôs muito em seus primeiros anos em Salzburgo, antes de dedicar-se à carreira dos filhos Maria Anna (Nannerl) e Wolfgang. Suas diversas missas e outras peças sacras, obras de câmara, numerosos concertos e 25 sinfonias mostram as características gerais do estilo galante vienense, deliberadamente simples. SobreAViagem musical de trenó, sabe-se que Leopold enviou a partitura para músicos da Sociedade de Intérpretes de Augsburgo, sua cidade natal. Eles a apresentaram no albergue Aos Reis Magos, em janeiro de 1756, quinze dias antes do nascimento de Wolfgang.
Em algumas criações de Leopold Mozart é possível perceber a valorização do registro agudo dos instrumentos de metal, cujo florescimento na corte de Salzburgo, por volta de1765, resultou em pelo menos três concertos conhecidos: dois de Michael Haydn para o clarim e oConcerto para trombone altode Leopold Mozart, que foi escrito por volta de 1760.
A Sinfonia dos Brinquedosfoi, por muito tempo, atribuída a Joseph Haydn. Somente em 1951, o musicólogo Ernst F. Schmidt anunciou a descoberta, em Munique, de uma Cassation de Leopold Mozart em sete movimentos, três dos quais idênticos aos movimentos da Sinfonia. A obra denota a predileção do autor pelos divertimentos populares.
Wolfgang Amadeus Mozart (Áustria, 1756-1791) e as obras Mia speranza adorata – Ah, non sai qual pena, K. 416 (1783); No, no, che non sei capace, K. 419 (1783); e Concerto para dois pianos em Mi bemol maior, K. 365 (1779)
As árias de concerto para voz e acompanhamento orquestral fazem parte de um capítulo importante e especialmente pouco conhecido da obra de Mozart. O compositor dedicou-se ao gênero desde a infância até o último ano de sua vida, deixando cerca de cinquenta títulos. Mozart ajustava sua escrita aos intérpretes, acentuando asqualidades e considerando as limitações. Tornou-se famoso o conceito mozartiano de que “uma ária deve se adaptar ao cantor como um traje bem feito”. Muitos cantores agraciados com essas árias isoladas participaram de papéis importantes em suas óperas, e o profundo conhecimento de suas capacidades expressivas favorecia o trabalho do compositor.Mia speranza adorata(1783) foi composta para um recital de Aloysia Weber, cunhada de Mozart, que interpretou Madame Herz emDer Schauspieldirektor.
Algumas árias eram solicitadas a Mozart para a inserção em óperas de outros compositores, quando as originais se mostravam inadequadas ao conjunto da obra ou às possibilidades de determinado intérprete. Mozart criou árias isoladas para óperas de Cimarosa, Anfossi, Martin y Soler, Paisiello e Bianchi. Na apresentação vienense deO curioso indiscreto(1783) de Anfossi, Aloysia Weber interpretava o papel de Clorinda. A cantora julgou as árias de Anfossi aquém de seus recursos e solicitou ao cunhado outras, que mostrassem todos eles. Mozart admirava sua voz extensa e delicada. As três árias que compôs – entre elasNo, no, che non sei capace– fizeram muito sucesso, independentemente do fracasso da ópera.
Leopold planejou meticulosamente as longas turnês em que Nannerl e Wolfgang conquistaram os grandes centros musicais da Europa. As crianças tocavam individualmente, a quatro mãos ou em dois cravos. Em 1765, o pequeno Mozart escreveu para o duo familiar sua primeira peça para essa formação, aSonata K. 19d. No começo de 1779, aos 23 anos, Mozart iniciou o K. 365, também destinado a Nannerl (o primeiro piano) e a ele mesmo. Os solistas são tratados com igual importância. É uma peça brilhante, repleta de alegria. Mozart tinha especial carinho por esse concerto e tocou-o várias vezes depois que se fixou em Viena.
Os artistas
Maestro Fabio Mechetti
Desde 2008, Fabio Mechetti é Diretor Artístico e Regente Titular da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais. Com seu trabalho, Mechetti posicionou a orquestra mineira nos cenários nacional e internacional e conquistou vários prêmios. Com ela, realizou turnês pelo Uruguai e Argentina e realizou gravações para o selo Naxos. Natural de São Paulo, Fabio Mechetti serviu recentemente como Regente Principal da Orquestra Filarmônica da Malásia, tornando-se o primeiro regente brasileiro a ser titular de uma orquestra asiática. Depois de quatorze anos à frente da Orquestra Sinfônica de Jacksonville, Estados Unidos, atualmente é seu Regente Titular Emérito. Foi também Regente Titular da Sinfônica de Syracuse e da Sinfônica de Spokane. Desta última é, agora, Regente Emérito. Foi regente associado de Mstislav Rostropovich na Orquestra Sinfônica Nacional de Washington e com ela dirigiu concertos no Kennedy Center e no Capitólio norte-americano. Da Orquestra Sinfônica de San Diego, foi Regente Residente. Fez sua estreia no Carnegie Hall de Nova York conduzindo a Orquestra Sinfônica de Nova Jersey e tem dirigido inúmeras orquestras norte-americanas, como as de Seattle, Buffalo, Utah, Rochester, Phoenix, Columbus, entre outras. É convidado frequente dos festivais de verão nos Estados Unidos, entre eles os de Grant Park em Chicago e Chautauqua em Nova York.
Realizou diversos concertos no México, Espanha e Venezuela. No Japão dirigiu as orquestras sinfônicas de Tóquio, Sapporo e Hiroshima. Regeu também a Orquestra Sinfônica da BBC da Escócia, a Orquestra da Rádio e TV Espanhola em Madrid, a Filarmônica de Auckland, Nova Zelândia, e a Orquestra Sinfônica de Quebec, Canadá. Vencedor do Concurso Internacional de Regência Nicolai Malko, na Dinamarca, Mechetti dirige regularmente na Escandinávia, particularmente a Orquestra da Rádio Dinamarquesa e a de Helsingborg, Suécia. Recentemente fez sua estreia na Finlândia dirigindo a Filarmônica de Tampere e na Itália, dirigindo a Orquestra Sinfônica de Roma. Em 2016 fará sua estreia com a Filarmônica de Odense, na Dinamarca.
Igualmente aclamado como regente de ópera, estreou nos Estados Unidos dirigindo a Ópera de Washington. No seu repertório destacam-se produções de Tosca, Turandot, Carmem, Don Giovanni, Così fan tutte, La Bohème, Madame Butterfly, O barbeiro de Sevilha, La Traviata e Otello. Fabio Mechetti recebeu títulos de mestrado em Regência e em Composição pela prestigiosa Juilliard School de Nova York.
Mark John Mulley
Mark John Mulley nasceu na Inglaterra e iniciou seus estudos em música ainda criança. Começou a tocar em brass bands até começar seu trabalho com a Coldstream Guards Band como assistente de chefe de naipe de trombone, participando de diversas cerimônias, gravações e concertos. Depois formou-se no London College of Music e fez pós-graduação no Royal College of Music de Londres. Mark integrou a BBC Symphony Orchestra, a Wren Orchestra, Philharmonia Orchestra, Hanover Band – tocando sackbut – e a London Festival Orchestra, em várias apresentações e gravações. Participou também da Orchestra of Nations em turnê pela Alemanha, gravando a Sinfonia nº 8 de Bruckner. No jazz, atuou na Glenn Miller Band, Andy Ross Big Band, All Jazz Quartet e em diversos festivais, como Ealing Jazz Festival e Soho Jazz Festival, tocando ao lado de West End com Carmen Jones. Também atuou como professor de música no Richmond Adult College e na Brunel University, na Inglaterra. Durante oito anos, trabalhou como professor de trombone para a Orquestra Real Sinfônica em Muscate, Omã. Em Muscate, Mark tocava jazz com seu próprio quarteto, Just Jazz, apresentando-se em vários hotéis e festivais. Desde o início da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, em 2008, Mark é Trombone Principal do grupo.
Cláudia Azevedo
Crédito: Devon Cass
Cláudia Azevedo realizou seu début europeu em 2006, a convite do maestro italiano Alberto Zedda, no Rossini Opera Festival de Pesaro, Itália, no papel de Corinna em Il viaggio a Reims, com a Orchestra del Teatro Comunale di Bologna. Primeira cantora brasileira a participar do festival dedicado a Rossini, teve sua atuação destacada pela revista espanhola Opera Actual. No mesmo ano estreia como Ännchen em Der Freischütz de Weber, em Valadoli, Espanha, e apresenta-se em recital com obras do bel canto e Mozart para os Amics del Gran Teatro del Liceu, Barcelona. O ano de 2011 marca sua estreia em Nova York como Ismene em Mitridate, Re di Ponto, de Mozart, com enorme sucesso junto ao público e à crítica especializada, inclusive no jornal The New York Times. Vencedora dos concursos Audiciones Jovenes Voces Liricas del Teatro Colón 2008, Concurso Internacional de Canto Aldo Baldin 2008 e Terceiro Prêmio no Concurso Internacional de Canto Bidu Sayão 2005, Cláudia colabora regularmente com as principais orquestras brasileiras. Graduada em Música pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul com especialização pelo Conservatorio Superior del Liceu de Barcelona, Espanha, como bolsista da Fundación Carolina-Madrid, Cláudia aperfeiçoou-se na Akademie Bel Canto do Rossini Opera Festival de Wildbad.
Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini
Crédito: Cleu Nacif e Luiz Ritter
Formado em 1984, o duo pianístico Celina Szrvinsk e Miguel Rosselinié reconhecido como um dos mais destacados do país, com apresentações nas principais séries e salas de concerto do Brasil. No exterior, apresentou-se na Alemanha, Suíça, Itália, Canadá, Rússia e Japão. Como solistas, Celina e Miguel atuaram com as orquestras Sinfônica Estadual de São Paulo, Sinfônica de Minas Gerais, Filarmônica de Minas Gerais, Sinfônica de Campinas, Filarmônica de Goiás, Sinfônica da USP, Sinfônica Nacional, Filarmônica de Câmara da Polônia, Filarmônica de Baden-Baden, Bach-Orchester Herzogtum-Lauenburg, dentre outras. Em parceria com conceituados músicos, integram inúmeras outras formações camerísticas. Em 1996, os artistas concluíram mestrado e doutorado na Staatliche Hochschule für Musik Karlsruhe, Alemanha, onde gravaram, em 1998, CD com obras de compositores brasileiros e alemães. Um segundo CD, gravado em 2005, foi citado, pelas revistas Diapason e Continente, entre as melhores gravações brasileiras do ano. Paralelamente às atividades artísticas e de ensino, Celina e Miguel desenvolvem ainda intenso trabalho como produtores, sendo responsáveis pelo Festival de Maio e pelas séries Concertos Didáticos e Concertos Teatro Bradesco, programações de proa em Belo Horizonte, dedicadas à música de câmara com renomados artistas nacionais e internacionais.
Sobre a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais
Com apenas oito anos de existência, a Filarmônica de Minas Gerais recebeu três prêmios de melhor grupo musical brasileiro, efetivando-se como um dos projetos mais bem-sucedidos de Minas Gerais e do Brasil no campo da música erudita. Sob a direção artística e regência titular de Fabio Mechetti, a Orquestra é atualmente formada por 92 músicos provenientes de todo o Brasil, Europa, Ásia, Américas Central, do Norte e Oceania, selecionados por um rigoroso processo de audição. Neste período, realizou 554 concertos, com a execução de 915 obras de 77 compositores brasileiros e 150 estrangeiros, para mais de 709 mil pessoas, sendo que mais de 40% do público pôde assistir às apresentações gratuitamente. O impacto desse projeto artístico durante os anos também pode ser medido pela geração de 59 mil oportunidades de trabalho direto e indireto.
O corpo artístico Orquestra Filarmônica de Minas Gerais é oriundo de política pública formulada pelo Governo do Estado de Minas Gerais. Em 2008, com a finalidade de criar uma nova orquestra para o Estado, o Governo optou pela execução dessa política por meio de parceria com o Instituto Cultural Filarmônica, uma entidade privada sem fins lucrativos qualificada com o título de Organização da Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip). Tal escolha objetivou um modelo de gestão flexível e dinâmico, baseado no acompanhamento e avaliação de resultados. Um Termo de Parceria foi celebrado como instrumento que rege essa relação entre o Estado e a Oscip, contendo a definição das atividades e metas, bem como o orçamento necessário à sua execução.
Programação
A partir de 2015, quando a Orquestra passou a se apresentar em sua sede, a Sala Minas Gerais, sua programação foi intensificada. De 24, saltou para 57 concertos por assinatura, sempre com convidados da cena sinfônica mundial. Em 2016, estreiam com a Orquestra os regentes convidados Justin Brown e Dorian Wilson, além dos solistas Luis Ascot, Gabriela Montero, Javier Perianes, Clélia Iruzun, Antti Siirala, Lara St. John e Ji Young Lim. O público também terá a oportunidade de rever grandes músicos, como os regentes Rodolfo Fischer, Carl St. Clair, Marcelo Lehninger, Carlos Miguel Prieto e Cláudio Cruz, e os solistas Celina Szrvinsk, Miguel Rosselini, Barry Douglas, Angela Cheng, Arnaldo Cohen, Conrad Tao, Natasha Paremski, Cristina Ortiz, Luíz Filíp, Vadim Gluzman, Asier Polo, Leonard Elschenbroich, Fábio Zanon, Denise de Freitas e Fernando Portari.
A Filarmônica também desenvolve projetos dedicados à democratização do acesso à música clássica de qualidade. São turnês em cidades do interior do estado, concertos para formação de público, apresentações de grupos de câmara, bem como iniciativas de estímulo à profissionalização do setor no Brasil – o Festival Tinta Fresca, dedicado a compositores, e o Laboratório de Regência, destinado ao aprimoramento de jovens regentes. Já foram realizadas 82 apresentações em cidades mineiras e 29 concertos em praças públicas e parques da Região Metropolitana de Belo Horizonte, mobilizando um público de 274 mil pessoas. Mais de 70 mil estudantes e trabalhadores tiveram a oportunidade de aprender um pouco sobre obras sinfônicas, contexto histórico musical e os instrumentos de uma orquestra, participando de concertos didáticos.
O nome e o compromisso de Minas Gerais com a arte e a qualidade foram levados a 15 festivais nacionais, a 32 apresentações em turnês pelas cinco regiões brasileiras, bem como a cinco apresentações internacionais, em cidades da Argentina e do Uruguai.
A Filarmônica tem aberto outras frentes de trabalho, como a gravação da trilha sonora do espetáculo comemorativo dos 40 anos do Grupo Corpo, Dança Sinfônica (2015), criada pelo músico Marco Antônio Guimarães (Uakti). Com o Giramundo Teatro de Bonecos, realizou o conto musical Pedro e o Lobo (2014), de Sergei Prokofiev. Comercialmente, a Orquestra já lançou um álbum com a Sinfonia nº 9, “A Grande” de Schubert (distribuído pela Sonhos e Sons) e outros três discos com obras de Villa-Lobos para o selo internacional Naxos.
Prêmios
Reconhecida e elogiada pelo público e pela crítica especializada, a Filarmônica, em conjunto com a Sala Minas Gerais, recebeu o Grande Prêmio Concerto 2015. Em 2012, ganhou o Prêmio Carlos Gomes de melhor orquestra do Brasil e, em 2010, o Prêmio APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) de melhor grupo musical erudito. O maestro Fabio Mechetti recebeu o Prêmio Minas Gerais de Desenvolvimento Econômico de 2015 e o Carlos Gomes de melhor regente brasileiro em 2009 por seu trabalho à frente da Filarmônica. Neste ano, 2016, a Filarmônica e o maestro Mechetti recebem o Troféu JK de Cultura e Desenvolvimento de Minas Gerais, uma iniciativa da publicação Mercado Comum.
O Instituto Cultural Filarmônica recebeu dois prêmios dentro do segmento de gestão de excelência. Em 2013, concedido pela Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão de Minas Gerais, em parceria com o Instituto Qualidade Minas (IQM), e em 2010, conferido pela Fundação Instituto de Administração da Universidade de São Paulo (USP). Na área de Comunicação, foi reconhecido com o prêmio Minas de Comunicação (2012), na 10ª Bienal Brasileira de Design Gráfico (2013) e na 14ª Bienal Interamericana de Design, ocorrida em Madri, Espanha (2014).
SERVIÇO
Orquestra Filarmônica de Minas Gerais
14 de maio – 18h
Sala Minas Gerais
Fabio Mechetti, regente
Mark John Mulley, trombone
Cláudia Azevedo, soprano
Celina Szrvinsk e Miguel Rosselini, piano
L. MOZART A viagem musical de trenó
L. MOZART Concerto para trombone alto em Ré maior
L. MOZART Sinfonia dos Brinquedos
MOZART Mia speranza adorata – Ah, non sai qual pena, K. 416
MOZART No, no, che non sei capace, K. 419
MOZART Concerto para dois pianos em Mi bemol maior, K. 365