Entre os dias 10 e 16 de julho de 2022 será realizada a 34ª Semana Rosiana, em Cordisburgo/ MG. A edição deste ano tem duplo tema: os “70 anos da viagem de 1952 – a Boiada” e os “60 anos do livro Primeiras Estórias”. A Semana Rosiana acontece há 34 anos em data próxima ao aniversário de nascimento do escritor João Guimarães Rosa, atraindo para Cordisburgo um turismo cultural significativo proveniente de várias regiões do Estado e do país, além de reunir pesquisadores, estudiosos provenientes de vários centros acadêmicos e admiradores da obra rosiana. O evento abrange diferentes atividades artísticas, como narrações de estórias, caminhadas literárias urbana e eco-literária, roda de leitura, palestras, mesas redondas, oficinas de arte, apresentações teatrais, lançamento de livros, entrega de medalhas pela Câmara Municipal de Cordisburgo, posse de novos acadêmicos na Academia Cordisburguense de Letras Guimarães Rosa e feira gastronômica.
A Semana Rosiana é uma realização da Academia Cordisburguense de Letras e conta com apoio do Grupo de Contadores de Estórias Miguilim; CEMIG; Prefeitura Municipal de Cordisburgo; Associação dos Amigos do Museu Casa Guimarães Rosa; Grupo Caminhos do Sertão; Roda de Leitura do IEB/USP; Cordis Notícias; Câmara Municipal de Cordisburgo; Secretaria de Educação, Cultura, Esporte e Lazer de Cordisburgo e Secretaria Municipal de Turismo de Cordisburgo.
70 ANOS DA VIAGEM DE 1952 – A BOIADA
Em maio de 1952, Guimarães Rosa realizou uma viagem ao sertão de Minas Gerais para acompanhar a travessia de uma boiada da fazenda da Sirga (Andrequicé, Três Marias-MG), de propriedade do seu primo Chico Moreira, até a fazenda São Francisco (Araçaí-MG). Nesse percurso de 240 km, o escritor registrou centenas de anotações numa cadernetinha de bolso. Anotou em detalhes suas observações, as cenas, inclusive a data, a hora em minutos e as léguas percorridas. O conjunto dessas notas de viagem denominou de “Boiada”. A viagem ganhou, na época, as páginas da revista “O Cruzeiro”, com reportagem do jornalista Álvares da Silva e fotografias de Eugênio Silva, que cobriram os últimos dias da travessia da “Boiada”.
A “Boiada” representa um inventário informal da fauna e da flora, uma cartografia do sertão mineiro na década de 1950 e uma descrição que enaltece a vida sociocultural sertaneja. A leitura das anotações de Guimarães Rosa transporta o leitor para o sertão de Minas e o leva a apreciar as descrições minuciosas e poéticas. O leitor se delicia e se encanta com os sons, os cheiros, as cores, o vento.
Guimarães Rosa buscava exatamente a natureza menos manipulada, menos transformada pelo modelo capitalista. Para tanto, viajou para o sertão de Minas, para a região de sua terra natal, Cordisburgo, a cidade do coração, outrora Vista Alegre. Ao invés do carro, uma mula; ao invés do urbano, o rural; em vez de diplomatas, vaqueiros e bois; ao invés de documentos oficiais, anotações.
Ao retornar ao Rio de Janeiro, onde residia, o escritor datilografou e organizou todas as anotações de “Boiada”. À medida que ia aproveitando essa “bela pilha de papel sortida de vitaminas” na criação de seus livros, anotava e cobria o texto com hachuras, tornando os datiloscritos coloridos e graciosos.
60 ANOS DO LIVRO PRIMEIRAS ESTÓRIAS
Publicado em 1962, seis anos depois do romance Grande Sertão: Veredas, Primeiras Estórias é considerado na escola literária como obra pertencente à terceira fase do Modernismo brasileiro. Seus vinte e um contos retratam os questionamentos de suas personagens sobre os conflitos da existência humana, o que corrobora o argumento de que Guimarães Rosa seja um escritor universalista.
Apesar de despertar curiosidade, pode-se justificar o título do livro a partir do resgate que o autor faz das narrativas em seus primórdios, em suas gênesis. Outro argumento que defende o título é a mudança na forma como o escritor escreve seus contos. Rosa apresenta contos mais compactos. Depois de lançar três grandes livros, com seiscentas páginas em média cada um, Primeiras Estórias é apresentado com contos mais curtos, reflexivos e herméticos, sem perder as características das escritas peculiares de Rosa. Já a palavra Estória sugere algo advindo da imaginação, apesar do escritor utilizar cenários e personagens reais em alguns contos.
Dentro da genialidade que se espera de Guimarães Rosa, é possível perceber que os contos dialogam entre si. Se espelham, se correspondem. Não é à toa que o escritor decide colocar bem no meio do livro, um conto chamado “O espelho”, entre os dez primeiros e dez últimos contos. Pode-se acreditar que esse conto seja um divisor de águas entre as demais estórias do livro.
Confira a programação completa no Instagram do Museu Casa Guimarães Rosa
@museuguimaraesrosa