A Fundação Clóvis Salgado (FCS), o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e a Appa Arte e Cultura firmam parceria no próximo dia 14 de março, às 18h30, para a realização do programa O MODERNISMO EM MINAS GERAIS, em evento para convidados no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes. Estarão presentes o Governador de Minas Gerais, Romeu Zema, o Procurador Geral de Justiça do Ministério Público de Minas Gerais, Jarbas Soares Junior, o presidente do Fundo Especial do Ministério Público (Funemp), procurador de Justiça Jacson Rafael Campomizzi, o Secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas Oliveira, a Presidente da Fundação Clóvis Salgado, Eliane Parreiras, e os pesquisadores e produtores Epaminondas Bittencourt, Breno Nogueira, e Leonardo Pontes Guerra, entre outros, e contará com apresentação da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais.
Trata-se de uma parceria inédita, por meio do Fundo Especial do Ministério Público de Minas Gerais (FUNEMP), estabelecida para viabilizar a difusão, a pesquisa e a reflexão sobre o Modernismo em Minas Gerais, na ocasião do Centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, bem como ampliar e fortalecer os processos de democratização do acesso à produção cultural no estado.
O programa O Modernismo em Minas Gerais é financiado com recursos do Fundo Especial do Ministério Público de Minas Gerais (FUNEMP) e executado por meio do Contrato de Gestão com a APPA Arte e Cultura. O FUNEMP busca, além de aperfeiçoar as funções institucionais do Ministério Público, caso da modernização e obtenção dos meios necessários para o combate ao crime organizado, a reconstituição de bens lesados e a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos, dar suporte financeiro a programas, projetos e ações de relevante interesse social. O valor de R$ 2,470 milhões investidos no programa O Modernismo em Minas Gerais se soma aos investimentos orçamentários do Governo do Estado e de outros importantes parceiros privados da Fundação Clóvis Salgado.
Como contribuição às comemorações do centenário do modernismo brasileiro, simbolicamente representado pela Semana de Arte Moderna de 1922, pretende-se com esse projeto apresentar a pujança do núcleo modernista constituído em Belo Horizonte e Minas Gerais a partir da década de 1920. Assim, estarão em evidência, durante todo o ano de 2022, a participação de Minas Gerais no modernismo, os principais nomes do estado, suas contribuições em nível nacional e as consequências do movimento nos mais variados domínios da cultura, resultando em valiosas contribuições nas mais diversas expressões artísticas, preenchendo uma importante lacuna na história da arte mineira.
Entre os destaques da programação, estão: Ciclo de debates, Saraus modernistas, Espetáculos musicais, Mostra de Cinema, lançamento de longa-metragem documental, Espetáculo de dança, Concertos Sinfônicos, Mostra Fotográfica, Espetáculo Teatral e Publicações. A programação acontecerá nos espaços do Palácio das Artes e também no ambiente virtual.
Resgate modernista
O Ministério Público de Minas Gerais apoia a celebração dos 100 anos da Semana de Arte Moderna realizada pela Fundação Clóvis Salgado, tendo em vista que se trata do maior espaço cultural de Minas Gerais. “O Fundo Especial do Ministério Público, diversificando o seu portfólio de ações, destina esses recursos por se tratar do maior movimento cultural de expressão na história do Brasil, com transformação da nossa cultura para o século seguinte. Portanto, apreciamos tudo o que será apresentado pela Fundação Clóvis Salgado”, destaca o Procurador-Geral de Justiça de Minas Gerais, Jarbas Soares Júnior.
O presidente do Grupo Coordenador do Fundo Especial do MPMG (Funemp), procurador de Justiça Jacson Rafael Campomizzi, comenta que o projeto da Fundação Clóvis Salgado foi percebido com entusiasmo pelo MPMG e que seu financiamento foi aprovado por unanimidade. Segundo ele, é fundamental esse resgate e a divulgação do patrimônio cultural construído em Minas Gerais por mulheres e homens modernistas, que romperam o academicismo vigente até o início do século passado para expressar a liberdade subjetiva que compõe a criação e a rica cultura popular. De acordo com Campomizzi, o desafio é compreender, por meio da literatura e das artes, as características que unem os mineiros como povo, para além da língua, do barroco, da culinária, das aldeias, das serras e gentes. “Nosso modo de vida multicultural captado por mestres desse tempo será objeto de mostras, apresentações, exposição documental, debates, que permitirão ao público visualizar as expressões de identidade do povo mineiro e brasileiro”, avalia o presidente do Grupo Coordenador do Funemp.
O secretário de Estado de Cultura e Turismo, Leônidas Oliveira, ressalta a importância e a influência da Semana de Arte Moderna para diversos segmentos artísticos e movimentos posteriores a ela. “Foi o nacionalismo antropofágico que levou os modernistas a uma aproximação de uma ideia de brasilidade. Seu legado é sentido pela sociedade brasileira mesmo após décadas desde aquele festival no Teatro Municipal de São Paulo. Não apenas nas artes plásticas e na literatura como também na política, na música, na arquitetura, na produção cinematográfica, e, sobretudo, na arquitetura. A modernidade brasileira propôs e realizou um novo pensamento estético, cultural, artístico, revolucionário e de vanguarda. De forma paradoxal em relação ao movimento europeu, no Brasil ele estava voltado para si mesmo, na busca de sua essência cultural, histórica e social, tão múltipla, mas única em seus vários sotaques e diferentes formas de ser só um. Essa parceria do Sistema Estadual de Cultura com o Ministério Público de Minas Gerais merece ser celebrada e traz bons frutos, valorizando e difundindo ainda mais a cultura e a arte no estado”, afirma o secretário.
Segundo Eliane Parreiras, presidente da Fundação Clóvis Salgado, o investimento do Ministério Público de Minas Gerais vai beneficiar diretamente os cidadãos mineiros que frequentam o Palácio das Artes e usufruem de uma programação estruturada na pluralidade e na diversidade. “Vamos realizar um amplo programa cultural, com um calendário repleto de ações ao longo do ano no Palácio das Artes. Estamos imensamente felizes com essa parceria com o Ministério Público de Minas e com a possibilidade de aprofundar a reflexão e difundir a significativa participação, contribuições e importância de Minas Gerais para o movimento modernista brasileiro e seus desdobramentos. E, ainda, a oportunidade de falar e refletir sobre as nossas identidades mineiras e o modernismo na contemporaneidade”.
De acordo com o pesquisador Epaminondas Bittencourt, na literatura, na música, na arquitetura, nas artes plásticas, a vanguarda formada no continente europeu estabeleceu múltiplos conceitos que foram compartilhados, recusados ou enriquecidos pelos mais variados atores culturais nas diversas localidades urbanas onde uma nova sociedade emergia. Um amplo movimento que culminou na Semana de Arte Moderna de 1922 em São Paulo, agregou artistas locais do Rio de Janeiro, de Pernambuco, do Rio Grande do Sul, de Minas Gerais, além de alguns estrangeiros que acabaram se radicando no país. “A mostra “Percurso Modernista”, uma das várias ações do programa O Modernismo em Minas Gerais, proporciona ao visitante uma trajetória por diversos conteúdos sobre o movimento, ilustrando a participação de Minas Gerais e os seus reflexos ao longo de várias décadas do século XX”, conta Epaminondas.
Ao longo dos seus cinquenta anos, a Fundação Clóvis Salgado vem cumprindo seu papel como um dos principais agentes de fomento e produção cultural do Estado com iniciativas que visam à democratização do acesso à cultura, acreditando que a arte é um importante meio de inclusão.
A Fundação Clóvis Salgado é integrante do Circuito Liberdade, complexo cultural sob gestão da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais (Secult) que reúne diversos espaços com as mais variadas formas de manifestação de arte e de cultura em transversalidade com o turismo.
Contextualização
O final do século XIX e início do século XX foram marcados por grandes transformações, sobretudo pela industrialização, a rápida urbanização e a ampliação da desigualdade social. Sob os impactos de uma jovem República, alguns intelectuais, após contato com a vanguarda europeia, começaram a questionar os caminhos da cultura nacional. Segundo eles, era chegada a hora de uma arte brasileira, que o povo pudesse se identificar. Era preciso uma transformação cultural e que a arte cantasse as nossas belezas e, também, as nossas mazelas. Abaixo o rigor da métrica parnasiana e o escapismo do simbolismo. Viva o novo!
1919. Em visita a Ouro Preto, Mário de Andrade se encantou com o barroco mineiro. Em Minas, ele descobriu uma arte verdadeiramente brasileira. Nasceu dessa visita a base conceitual para o modernismo brasileiro e a Semana de Arte Modena de 1922.
1920. A mineira Zina Aita, pintora, desenhista e ceramista, expôs seus quadros em Belo Horizonte, apresentando uma nova forma de ver o mundo. O poeta de Montes Claros, Agenor Barbosa, fazia o mesmo em seus versos. Os dois foram os únicos mineiros a participar da Semana de Arte Moderna em São Paulo.
1924. Após uma passagem pelo Rio de Janeiro e algumas cidades históricas mineiras, Mario de Andrade, Oswald de Andrade, Anita Malfati, Olívia Penteado e o poeta franco-suíço Blaise Cendrars chegaram a Belo Horizonte acompanhados de amigos. Conheceram Drummond, Pedro Nava, Martins de Almeida, Emílio Moura e João Alphonsus de Guimarães. Circularam por Minas Gerais e novas amizades se formaram e uma admiração mútua passou a dominar as relações entre eles nas décadas seguintes. O que veio depois, mudou a cultura brasileira para sempre.
Saiba mais sobre o programa em www.fcs.mg.gov.br